Ronaldo Conde Aguiar "O Velhote do Penedo autografando em minha humilde residência. Quanta honra!"
Ronaldo Conde Aguiar (Velhote do Penedo)
"A pior invenção do homem foi o celular; de Deus, a pior invenção foi a velhice (Velhote, em crise)".
Sua página do Facebook inicia com estes dizeres, recentemente sua postagem no facebook chamou atenção de seus seguidores: Reflexão: Ronaldo Conde Aguiar - Penso na vida e choro
Leia o texto a seguir
Eu era casado, tinha duas filhas, morava em São Paulo – e era formado em sociologia. Corria o ano de 1972. Na época, eu trabalhava numa empresa de consultoria, especializada em elaborar estudos de desenvolvimento para estados e municípios. Um dia, tocado por minha admiração ao professor Orlando Valverde, resolvi fazer vestibular para geografia, na USP.
Passei.
Montei meus horários de aula de forma compatível com minhas atividades
profissionais. Deu certo, mas fui obrigado a trabalhar nos fins de
semana (em casa) e a fazer serões que me obrigavam dormir não antes das
três horas.
No primeiro dia de aula, alunos veteranos
nos cercaram: queriam fazer o clássico trote. Bolas! Eu fizera, em
1965, vestibular para sociologia na velha Faculdade Nacional de
Filosofia – e o trote foi uma palestra sobre o golpe militar, que
tivemos de ouvir, embora o palestrante nada dissesse que fosse novidade
para nós outros. Feridas ainda estavam abertas. Mas, vá lá! Submeti-me
ao ritual: eu era jovem e ainda acreditava nessas coisas.
Mas,
voltemos aos veteranos de geografia e sua intenção de nos submeter a um
trote, que envolvia tintas, máscaras, grosserias e humilhação. Os
calouros pareciam resignados ao sofrimento do trote, mas o Velhote do
Penedo resolveu engrossar: cheguei perto do chefão dos veteranos (um
sujeito gordo, barbudo, cara de caipira) – e fui direto e claro: eu não
aceitaria ser submetido ao trote.
Fui
incisivo: quem chegasse perto de mim – ameacei - ia se dar mal. Fui
olhado com surpresa, escárnio e ódio. Outro calouro, alto e parrudo,
aliou-se a mim. Em alguns segundos éramos um grupo disposto a enfrentar
os veteranos. Não iríamos nos submeter ao show. Não sei se ainda fazem
trote, mas, ao longo de minha vida universitária, vi coisas horrorosas.
Melamos
o trote que desejavam nos submeter. Fiz o curso, ao longo do qual
aprendi e acumulei utilidades e inutilidades, mais estas que aquelas.
Nunca fui buscar o diploma. Mudei-me para o Rio, onde fiquei três ou
quatro anos. Em 1980, vim morar em Brasília, onde fiz mestrado e
doutorado em sociologia. Escrevi 14 livros, ganhei netos e, agora, uma
bisneta, a gloriosa Luna. Plantei inúmeras árvores – ninguém pode me
acusar de agredir o meio ambiente. Não creio que tenha ajudado o mundo a
ser melhor, mas em compensação não contribuí para sua piora.
Fiz
política desde os 16 anos. Pertenci aos quadros da Polop, um bando de
intelectuais bem-intencionados (nem todos) que imaginava, um dia, botar
fogo no país em nome do melhor dos mundos, o socialismo. Hoje, aos 79
anos, desencantado das muitas verdades que um dia acreditei e defendi,
limito-me a ler, a ouvir música e a escrever. Evito dizer e ouvir
tolices e besteiras – por isso quase não vejo televisão. Não acredito
mais que sejamos capazes de enfrentar e resolver os problemas
brasileiros e mundiais.
A
desigualdade e as chamadas injustiças sociais fazem parte do mundo que a
civilização criou. Vivemos um dilema: o socialismo desmoronou, foi por
água abaixo, embora ainda haja quem acredite nas suas possibilidades e –
pior - na sua reedição; o capitalismo, por sua vez, não existe para
incluir o povão nos ganhos do desenvolvimento, não irá superar as taras
da desigualdade, pois estas lhe dão suporte e vida. Tudo isso significa
que vivemos um mundo de muita dor e sofrimento, mas o que fazer?
No
mundo tecnológico, não cabem os quase oito bilhões de habitantes
planetários. Vivemos a era do malthusianismo tecnológico. O avanço das
técnicas devorou empregos reais ou supostos, criando, como diria Marx,
um exército industrial de reserva de dimensão mundial, que jamais será
absorvido pelo mercado.
Vi
recentemente no canal smithsonian um documentário sobre a automatização
das fábricas. Fico pasmo como, diante desse processo incoercível, tanta
gente ainda acredita no socialismo.
A
questão é que o socialismo não liquidou a desigualdade, ele apenas
nivelou a sociedade por baixo. Estive em Cuba algumas vezes – e, tirante
os cenários de propaganda do governo, é flagrante que a pobreza é um
fato generalizado na ilha. Marx jamais admitiu que o socialismo
florescesse sobre os escombros do subdesenvolvimento. Marx acreditava
que a revolução socialista ocorreria numa sociedade burguesa plenamente
amadurecida, num quadro de abundância material e elevado nível cultural.
Tal previsão de Marx, contudo, não se realizou. As revoluções
socialistas aconteceram apenas em países pobres e atrasados, onde a
escassez de meios de produção, de bens de consumo, de qualificações, de
habilidades e experiências profissional e cultural – sociedades, enfim,
onde o embrião do socialismo não tivera ainda tempo de amadurecer, para
usarmos a metáfora do próprio Marx
.
A leitura de Marx – e, infelizmente, raros sãos os marxistas que leram Marx – explica o fracasso do socialismo real.
Putz!
Comecei o texto falando de mim. Terminei falando de Marx. Paro por aqui
senão vou acabar discorrendo sobre o Joãozinho da Goméia.
Fonte: Facebook https://www.facebook.com/ronaldo.condeaguiar
Ronaldo Conde Aguiar(Velhote do Penedo)
"A pior invenção do homem foi o celular; de Deus, a pior invenção foi a velhice (Velhote, em crise)".
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