Home Office: 10 dicas para recuperar a leveza
Por Pascoal Zani, psicólogo.
O sonho do Home Office
Até pouco tempo atrás, trabalhar em casa (home office) era um sonho distante para a maioria. O cansaço do trânsito, a jornada rígida, a irritação e o estresse acalentavam o desejo de ter horários mais flexíveis, ficar um pouco mais com a família, ver mais a luz do sol, ter tempo para atividade física, cuidar da alimentação, etc.
A ideia tinha (tem ainda, não é mesmo?) um tom de leveza, algo de liberdade e produtividade dividindo o mesmo espaço, um quê de “poder ser eu mesmo enquanto trabalho”. Uma proposta de harmonia e, enfim, mais qualidade de vida!
O Coronavírus acelerou o trabalho remoto
E quem previa uma pandemia? Mais: quem diria que ela, tão indesejada, aceleraria o chamado Home Office mundo afora. Se o vírus é perigoso, se é preciso ficar em casa, nada melhor do que doravante sentir o bem-estar daquilo que se sonhou: conviver mais com a família, com o cachorro, usar bermudas com camisa social, conquistar bons níveis de equilíbrio de estresse, ver as crianças crescerem e, de quebra, ter mais flexibilidade, autonomia. Em outras palavras, garantir resultados para a carreira e para a empresa produzindo de forma mais humana.
Um ano de COVID-19 e de Home Office
Após o primeiro aniversário da pandemia, porém, não se pode dizer que o Home Office garantiu a redução dos níveis de estresse. Ainda no final do ano passado o Ministério da Saúde divulgou pesquisa apontando 74% de entrevistados com ansiedade e 39,1% com depressão. E 16,60% dos entrevistados aumentaram a ingestão de álcool durante a pandemia. De fato, os consultórios de Psicologia e de Psiquiatria nunca foram tão procurados.
Mudou o Home Office ou mudamos nós? Do que se esperava antes, o que de fato acontece hoje? Considerando o atual cenário, quais ajustes podem ser feitos nessa busca constante de equilíbrio, de melhorar o bem-estar e de ter, de fato, qualidade de vida? Que tal um novo olhar?
Melhores práticas de Trabalho Remoto:
Recentemente colhi uma centena de depoimentos e selecionei boas práticas sobre Home Office e isolamento físico. Sou grato a todos os que contribuíram. Não é possível divulgar todas, mas quero partilhar algumas, na intenção de retomar o foco, deixar mais leve o dia-a-dia de quem trabalha remotamente:
Uma coisa em cada tempo e tudo em seu lugar
1. Definir quais são os espaços e os tempos da atuação profissional e quais são os de uso pessoal. Não havendo distinção clara, a nossa mente estará sempre alerta, em estado de hipervigilância, mantendo elevados níveis de estresse.
- Espaço. Uma caixa de papelão, decorada, na mesa da sala, dividia a estação de trabalho, numa foto que recebi. É um exemplo simples de que cada um adapta o local conforme suas possibilidades. A ideia é de dividir a zona de trabalho daquela que é destinada ao lazer e à família.
- Período de tempo. Outra pessoa comentou sobre conectar-se e desconectar-se do trabalho em horários rígidos, pré-definidos. Atuar com disciplina em momentos específicos de trabalho treina a mente a estar alerta e ativa em alguns momentos e relaxada em outros, regulando níveis de estresse e ansiedade. Nisso se pode incluir o uso profissional de whats App ou outros meios de comunicação, se conveniente e possível.
Um mínimo de planejamento é importante
2. Planejar e executar rotinas diárias e semanais. A flexibilidade oxigena a mente, é certo. Mas a noção do previsível, aliada à ação, permite usar a ansiedade para produzir com menor dispêndio de energia.
3. Stephen Covey, autor do best-seller “Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes” (recomendo) prega no 7º. Hábito: “Afinar o instrumento”, “parar para afiar a serra”. Buscar autoconhecimento, praticar a Inteligência Emocional, equilibrar as diversas áreas de atuação, planejar a carreira e a vida são valiosos para manter o bem-estar.
Relacionamentos só de home office? Não!
4. Revisar o modo de se relacionar com as pessoas próximas. Muitos pais e filhos passaram a conviver diuturnamente na pandemia. As emoções de cada um podem se aflorar mais, causando desgastes. Por mais que o amor una a família, é preciso parar, refletir e conversar sobre os relacionamentos. A Psicologia recomenda uma boa conversa, assertiva: ouvir com atenção e expressar, com empatia e clareza, os pensamentos e sentimentos.
5. Ainda no quesito familiar, construir juntos a divisão de tarefas domésticas entre todos é fator que evita desgastes emocionais.
6. A solidão tem sido das reclamações mais frequentes na pandemia. Ocorre que para evitar propagação de Coronavírus a recomendação é de isolamento físico e não social. Os relacionamentos sociais, laborais, amistosos e familiares podem ser mantidos por meios virtuais, e são essenciais para evitar a depressão, a perda do prazer, ou o que o sociólogo Corey Keyeschamam chama de “languishing”, ou, definhamento.
Paradas estratégicas
7. “Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe.” Antoine de Saint-Exupéry, em “O Pequeno Príncipe”. A mente busca economizar energia constantemente, funcionar “no automático”, modo em que os pensamentos se aceleram. Por isso o convite para clicar a seguir e colocar no dia-a-dia a prática de Mindfulness, a Atenção Plena, o viver consciente: https://www.instagram.com/p/CNV64xRlLyT/?igshid=znwwl0uaew5c
8. Assim como em todas as recomendações de gerenciamento de estresse, a disciplina com o sono, exercícios físicos e alimentação é importantíssima. De igual forma, recomenda-se procurar ajuda profissional imediatamente ao perceber os primeiros sinais de vícios e compulsões (álcool, drogas, compras, alimentação, internet, cigarro, etc).
Mente ativa
9. E o conceito de aprendizado constante, manter a mente ativa? Primeiramente, que tal começar ou retomar aquele curso tão adiado? Depois, talvez gerenciar a linha do tempo das redes sociais para inibir informações que gerem preocupações inúteis e distrações, incluindo páginas de conteúdos educativos? Ou, desde já uma boa leitura? Abaixo, algumas sugestões:
- “Reinvente sua Vida”, de Jeffrey Young. Dentro da Terapia Cognitivo-comportamental, o autor criou a Terapia do Esquema. No livro, um guia de autoconhecimento, ele considera 11 armadilhas de vida, comenta possíveis origens, como se mantém hoje e indica alguns caminhos para se libertar delas.
- “O Poder da Paciência”, de Mary Jane Ryan: “um dia resolvi dizer a mim mesma que eu tinha todo o tempo de que precisava, mesmo que fosse interrompida várias vezes. Para minha surpresa, funcionou. Descobri que de fato eu tinha todo o tempo de que precisava.” O livro indica o uso da virtude da paciência para controle de estresse e ansiedade, regulação emocional, melhora nos relacionamentos, e assim sucessivamente.
- “Atenção Plena”, de Mark Williams. É dos livros mais populares de Mindfulness. Vem com CD com oito meditações, com explicações e sugestão de exercitar ao longo de oito semanas.
Mente relaxada
10. E outros momentos, relaxar a mente é importante, buscar entretenimento. Aí, uma pipoca, um guaraná, uma boa série ou filme. Bom, não é mesmo? Veja algumas opções abaixo:
- “Professor Polvo” (Netflix): documentário inédito, resgatando valores como amizade, carinho, sensibilidade, equilíbrio.
- “Virgen River” (Netflix): série com temas como luto e busca de paz em meio às dificuldades da vida.
- “Anne with an E” (Netflix): série emocionante, com tanta superação de sofrimento que inspira a enfrentar o medo e viver.
- “Soul” (Disney+): animação ao som de Jazz, uma bela reflexão sobre o sentido e as escolhas da Vida
Home Office legal
A maratona da vida profissional e a necessidade de equilíbrio
Podemos comparar a vida profissional a uma maratona, corrida de longa duração em que a maior exigência é a resistência, dada pelo equilíbrio físico e mental. Da mesma forma, o trabalhador que cuida da saúde garante tanto a produtividade sustentável ao longo dos anos quanto a qualidade de vida enquanto produz. Afinal, cruzar a linha de chegada com sucesso é tão importante quanto viver, manter o bem-estar durante a caminhada.
Fonte: Gazeta do Povo
Psicólogo Pascoal Zani – CRP 08/04471 | Instagran: psicologopascoalzani
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