O professor Matemático e Pedagogo Valdivino Sousa, discorre sobre a Pedagogia e a História da Educação.
Pedagogia é a teoria crítica da educação, isto é,
da ação do homem quando transmite ou modifica a herança cultural. A educação
não é um fenômeno neutro, mas sofre os efeitos da ideologia, por estar de fato
envolvida na política.
Sociedades Tribais: a educação difusa
Nas comunidades tribais as crianças aprendem imitando
os gestos dos adultos nas atividades diárias e nas cerimônias dos rituais. As
crianças aprendem "para a vida e por meio da vida", sem que alguém
esteja especialmente destinado a tarefa de ensinar.
Antiguidade Oriental: a educação tradicionalista
Nas sociedades orientais, ao se criarem segmentos
privilegiados, a população, composta por lavradores, comerciantes e artesãos,
não tem direitos políticos nem acesso ao saber da classe dominante. A princípio
o conhecimento da escrita é bastante restrito, devido ao seu caráter sagrado e
esotérico. Tem início, então, o dualismo escolar, que destina um tipo de ensino
para o povo e outro para os filhos dos funcionários. A grande massa é excluída
da escola e restringida à educação familiar informal.
Antigüidade Grega: a paidéia
A Grécia Clássica pode ser considerada o berço da
pedagogia. A palavra paidagogos significa aquele que conduz a criança, no caso
o escravo que acompanha a criança à escola. Com o tempo, o sentido se amplia
para designar toda a teoria da educação. De modo geral, a educação grega está
constantemente centrada na formação integral – corpo e espírito – mesmo que, de
fato, a ênfase se deslocasse ora mais para o preparo esportivo ora para o
debate intelectual, conforme a época ou lugar. Nos primeiro tempos, quando não
existia a escrita, a educação é ministrada pela própria família, conforme a
tradição religiosa. Apenas com o advento das póleis começam a aparecer as
primeiras escolas, visando a atender a demanda.
Antigüidade Romana: a humanitas
De maneira geral, podemos distinguir três fases na
educação romana: a latina original, de natureza patriarcal; depois, a
influência do helenismo é criticada pelos defensores da tradição; por fim,
dá-se a fusão entre a cultura romana e a helenística, que já supõe elementos
orientas, mas nítida supremacia dos valores gregos.
Idade Média: a formação do homem de fé
Os parâmetros da educação na idade média se fundam
na concepção do homem como criatura divina, de passagem pela Terra e que deve
cuidar, em primeiro lugar, da salvação da alma e da vida eterna. Tendo em vista
as possíveis contradições entre fé e razão, recomenda-se respeitar sempre o
princípio da autoridade, que exige humildade para consultar os grandes sábios e
intérpretes, autorizados pela igreja, sobre a leitura dos clássicos e dos
textos sagrados. Evita-se, assim, a pluralidade de interpretações e se mantém a
coesão da igreja. Predomina a visão teocêntrica, a de Deus como fundamento de
toda a ação pedagógica e finalidade da formação do cristão. Quanto às técnicas
de ensinar, a maneira de pensar rigorosa e formal cada vez mais determina os
passos do trabalho escolar.
Renascimento: humanismo e reforma
Educar torna-se questão de moda e uma exigência,
segundo a nova concepção de homem. O aparecimento dos colégios, do século XVI
até o XVIII, é fenômeno correlato ao surgimento de uma nova imagem da infância
e da família. A meta da escola não se restringe à transmissão de conhecimentos,
mas a formação moral. Essa sociedade, embora rejeite a autoridade dogmática da
cultura eclesiástica medieval, mantém-se ainda fortemente hierarquizada: exclui
dos propósitos educacionais a grande massa popular, com exceção dos
reformadores protestantes, que agem por interesses religiosos.
Brasil: início da colonização e catequese
A atividade missionária facilita sobremaneira a
dominação metropolitana e, nessas circunstâncias, a educação assume papel de
agente colonizador.
Idade Moderna: a pedagogia realista
De maneira geral as escolas continuam ministrando
um ensino conservador, predominantemente nas mãos dos jesuítas. Além disso, é
preciso reconhecer, está nascendo a escola tradicional, como passaremos a
conhecê-la a partir do século XIX.
O Brasil do séc. XVII
Por se tratar de uma sociedade agrária e
escravista, não há interesse pela educação elementar, daí a grande massa de
iletrados.
Século das Luzes: o ideal liberal de educação
O iluminismo é um período muito rico em reflexões
pedagógicas. Um de seus aspectos marcantes está na pedagogia política, centrada
no esforço para tornar a escola leiga e função do Estado. Apesar dos projetos
de estender a educação a todos os cidadãos, prevalece a diferença de ensino, ou
seja, uma escola para o povo e outra para a burguesia. Essa dualidade era
aceita com grande tranqüilidade, sem o temor de ferir o preceito de igualdade,
tão caro aos ideais revolucionários. Afinal, para a doutrina liberal, o talento
e a capacidade não são iguais, e portanto os homens não são iguais em
riqueza...
O Brasil na era pombalina
Persiste o panorama do analfabetismo e do ensino
precário, agravado com a expulsão dos jesuítas e pela democracia da reforma
pombalina. A educação está a deriva. Durante esse longo período do Brasil
colônia, aumenta o fosso entre os letrados e a maioria da população analfabeta.
Século XIX: a educação nacional
É no séc. XIX que se concretizam, com a intervenção
cada vez maior do Estado para estabelecer a escola elementar universal, leiga,
gratuita e obrigatória. Enfatiza-se a relação entre educação e bem-estar
social, estabilidade, progresso e capacidade de transformação. Daí, o interesse
pelo ensino técnico ou pela expansão das disciplinas científicas.
Principais pedagogos:
Pestalozzi – é considerado um dos defensores da escola
popular extensiva a todos. Reconhece firmamente a função social do ensino, que
não se acha restrito à formação do gentil-homem.
Froebel – privilegia a atividade lúdica por perceber o
significado funcional do jogo e do brinquedo para o desenvolvimento
sensório-motor e inventa métodos para aperfeiçoar as habilidades.
Herbart – segundo ele, a conduta pedagógica segue três
procedimentos básicos: o governo, a instrução e a disciplina.
Brasil: a educação no Império
Ainda não há propriamente o que poderia ser chamada
de uma pedagogia brasileira. É uma atuação irregular, fragmentária e quase
nunca com resultados satisfatórios. O golpe de misericórdia que prejudicou de
uma vez a educação brasileira vem de uma emenda à Constituição, o Ato adicional
de 1834. Essa reforma descentraliza o ensino, atribuindo à Coroa a função de
promover e regulamentar o ensino superior, enquanto que as províncias são
destinadas a escola elementar e a secundária. A educação da elite fica a cargo
do poder central e a do povo confinada às províncias.
Século XX: a educação para a democracia
A pedagogia do século XX, além de ser tributária da
psicologia, da sociologia e de outras como a economia, a lingüística, a
antropologia, tem acentuado a exigência que vem desde a Idade moderna, qual
seja, a inclusão da cultura científica como parte do conteúdo a ser ensinado.
Sociologia: Durkheim
Antes dele a teoria da educação era feita de forma
predominantemente intelectualista, por demais presa a uma visão filosófica
idealista e individualista. Durkheim introduz a atitude descritiva, voltada
para o exame dos elementos do fato da educação, aos quais aplica o método
científico.
Psicologia: o behaviorismo
O método dessa corrente privilegia os procedimentos
que levam em conta a exterioridade do comportamento, o único considerado capaz
de ser submetido a controle e experimentação objetivos. Suas experiências são
ampliadas e aplicadas nos EUA por Watson e posteriormente por Skinner. O
behaviorismo está nos pressupostos da orientação tecnicista da educação.
Gestalt
As aplicações das descobertas gestaltistas na
educação são importantes por recusar o exercício mecânico no processo de
aprendizagem. Apenas as situações que ocasionam experiências ricas e variadas
levam o sujeito ao amadurecimento e à emergência do insight.
Dewey e a escola progressiva
O fim da educação não é formar a criança de acordo
com modelos, nem orientá-la para uma ação futura, mas dar-lhe condições para
que resolva por si própria os seus problemas. A educação progressiva consiste
justamente no crescimento constante da vida, à medida que aumentamos o conteúdo
da experiência e o controle que exercemos sobre ela. Ao contrário da educação
tradicional, que valoriza a obediência, Dewey estimula o espírito de iniciativa
e independência, que leva à autonomia e ao autogoverno, virtudes de uma
sociedade democrática.
Realizações da escola nova e suas principais características:
Educação
integral (intelectual, moral, física); educação ativa; educação prática, sendo
obrigatórios os trabalhos manuais; exercícios de autonomia; vida no campo;
internato; co-educação; ensino individualizado. Para tanto as atividades são
centradas nos alunos, tendo em vista a estimulação da iniciativa. Escolas de
métodos ativos: Montessori e Decroly Montessori estimula a atividade livre
concentrada, com base no princípio da auto-educação.
Decroly observa, de maneira pertinente, que,
enquanto o adulto é capaz de analisar, separar o todo em partes, a criança
tende para as representações globais, de conjunto. Resta lembrar outros riscos
dessa proposta: o puerilismo ou pedocentrismo supervaloriza a criança e
minimiza o papel do professor, quase omisso nas formas mais radicais do
não-diretivismo; a preocupação excessiva com o psicológico intensifica o
individualismo; a oposição ao autoritarismo da escola tradicional resulta em
ausência de disciplina; a ênfase no processo faz descuidar da transmissão do
conteúdo.
Teoria socialista – Gramsci
A educação proposta por ele está centrada no valor
do trabalho e na tarefa de superar as dicotomias existentes entre o fazer e o
pensar, entre cultura erudita e cultura popular. Teorias
crítico-reprodutivistas Por diversos caminhos chegaram a seguinte conclusão: a
escola está de tal forma condicionada pela sociedade dividida que, ao invés de
democratizar, reproduz as diferenças sociais, perpetuando o status quo.
Teorias progressistas – Snyders
Contra as pedagogias não-diretivas, defende o papel
do professor, a quem atribui uma função política. Condena a proposta de
desescolarização de Ivan Illich. Ressalta o caráter contraditório da escola,
que pode desenvolver a contra-educação.
Teorias antiautoritárias – Carl Rogers
Visam antes de tudo colocar o aluno como centro do
processo educativo, como sujeito, livrando-o do papel controlador do professor.
O professor deve acompanhar o aluno sem dirigi-lo, o que significa dar
condições para que ele desenvolva sua experiência e se estruture, por conta
própria. O principal representante dessa teoria é Carl Rogers. Segundo ele, a
própria relação entre as pessoas é que promove o crescimento de cada uma, ou
seja, o ato educativo é essencialmente relacional e não individual.
Escola tecnicista Proposta consiste em:
planejamento e organização racional da atividade pedagógica; operacionalização
dos objetivos; parcelamento do trabalho, com especialização das funções; ensino
por computador, telensino, procurando tornar a aprendizagem mais objetiva.
Teorias construtivistas
Piaget – segundo ele, à medida que a influência do meio
altera o equilíbrio, a inteligência, que exerce função adaptativa por
excelência, restabelece a auto-regulação.
Vygotshy - Ao analisar os fenômenos da linguagem e do
pensamento, busca compreendê-los dentro do processo sócio-histórico como
"internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente
desenvolvidas". Portanto, a relação entre o sujeito que conhece e o mundo
conhecido não é direta, mas se faz por mediação dos sistemas simbólicos.
Brasil no século XX: o desafio da educação
Nesse contexto, os educadores da escola nova
introduzem o pensamento liberal democrático, defendendo a escola pública para
todos, a fim de se alcançar uma sociedade igualitária e sem privilégios.
Podemos dizer que Paulo Freire é um dos grandes pedagogos da atualidade, não só
no Brasil, mas também no mundo. Ele se embasa em uma teologia libertadora,
preocupada com o contraste entre a pobreza e a riqueza que resulta privilégios.
Em sua obra Pedagogia do Oprimido faz uma abordagem
dialética da realidade, cujos determinantes se encontram nos fatores econômicos,
políticos e sociais. Considera que o conhecer não pode ser um ato de
"doação" do educador ao educando, mas um processo que se estabelece
no contato do homem com o mundo vivido. E este não é estático, mas dinâmico, em
contínua transformação. Na educação autêntica, é superada a relação vertical
entre educador e educando e instaurada a relação dialógica.
Paulo Freire defende a autogestão pedagógica, o
professor é um animador do processo, evitando as formas de autoritarismo que
costumam minar a relação pedagógica. Na década de 70 destaca-se a produção
teórica dos críticos-reprodutivistas, que desfazem as ilusões da escola como
veículo da democratização. Com a difusão dessas teorias no Brasil, diversos
autores se empenham em fazer a reeleitura do nosso fracasso escolar.
A tarefa da pedagogia histórico-crítica se insere
na tentativa de reverter o quadro de desorganização que torna uma escola
excludente, com altos índices de analfabetismo, evasão, repetência e, portanto,
de seletividade. Para Saviani, tanto as pedagogias tradicionais como a escola
nova e a pedagogia tecnicista são, portanto, não-críticas, no sentido de não
perceberem o comprometimento político e ideológico que a escola sempre teve com
a classe dominante. Já a partir de 70, começam a ser discutidos os
determinantes sociais, isto é, a maneira pela qual a estrutura sócio-econômica
condiciona a educação.
O trunfo de se tornar um dos países mais ricos
contrasta com o fato de ser um triste recordista em concentração de renda, com
efeitos sociais perversos: conflitos com os sem-terra, os sem-teto, infância
abandonada, morticínio nas prisões, nos campos, nos grandes centros. Persiste
na educação uma grande defasagem entre o Brasil e os países desenvolvidos,
porque a população não recebeu até agora um ensino fundamental de qualidade.
A Educação no Terceiro Milênio
A explosão dos negócios mundiais, acompanhada pelo
avanço tecnológico da crescente robotização e automação das empresas, nos faz
antever profundas modificações no trabalho e, conseqüentemente, na educação. Na
tentativa de incorporar os novos recursos, no entanto, a escola nem sempre tem
obtido sucesso porque, muitas vezes, apenas adquire as novas máquinas sem, no
entanto, conseguir alterar a tradição das aulas acadêmicas.
Diante das transformações vertiginosas da alta
tecnologia, que muda em pouco tempo os produtos e a maneira de produzi-los,
criando umas profissões e extinguindo outras. Daí a necessidade de uma educação
permanente, que permita a continuidade dos estudos, e portanto de acesso às
informações, mediante uma autoformação controlada.
Bibliografia
ARANHA,
Maria Lúcia Arruda.
Virou notícia publicamos aqui
Assuntos sobre: Educação, Comportamento, entre outros.
Textos escolhidos pra você: